quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Um jogo para gente bem-educada

Nós, gente do rugby, gostamos, mostrando o diferente que nos sentimos, de publicitar a definição do jogo no conceito "um jogo de rufias jogado por gente bem-educada" - já não por cavalheiros porque, como também sabemos, os homens não são únicos na modalidade.

E há toda uma profunda razão para o definirmos assim. Desde sempre o jogo de rugby tem uma ética própria subordinada a um conjunto de valores que se estabelecem no seu "Código do Jogo". De facto, existe toda uma maneira de estar que se pretende diferente e tradutora de uma cultura distinta em que o respeito, o "fair-play", o espírito colectivo de equipa, o companheirismo, a abnegação, a boa educação constituem algumas das componente de valores e atitudes que formatam a envolvente do jogo.

E assim sendo, é natural que possamos utilizar, com orgulho, a marca da diferença - um amigo meu, médico e frequentador internacional de estádios de futebol, viu, pela primeira vez, um jogo de rugby no França-All Blacks do centenário da FFR: não julgava possível, dizia, a confraternização permanente entre os espectadores adversários que o rodeavam. Espantado, tornou-se adepto.

Mas se pretendemos sê-lo, devemos, no mínimo, parecê-lo. E o que se passa à volta dos nossos campos em dia de jogo não pertence a este mundo idílico que pretendemos transmitir aos de fora. Espectadores, antigos jogadores na sua maioria, insultam árbitros e adversários, chamam nomes a quem bem querem e comportam-se como rufiotes numa constante demonstração arruaceira, deixando - para inglês ver - a proclamação da pretendida boa educação.

O jogo de rugby não é fácil de gerir. Os árbitros, como os jogadores, têm dificuldades na análise da sequência pela rapidez da acção e pelo número de intervenientes. Mas próximos e se pertencentes ao mesmo patamar, vêem melhor e analisam quase sempre melhor. E, na grande maioria dos casos, tomam a decisão correcta e são os espectadores que, ignorantes da Lei, protestam violentamente, impondo a emoção à razão, pressionando para que a sua cor, apesar de faltosa, deixe de ser "roubada!".

Nada deste comportamento se justifica ou ajuda o rugby português no seu desenvolvimento e progressão. Pelo contrário: desfocaliza jogadores, pressiona treinadores e árbitros de forma desadequada, retira lucidez aos intervenientes e transforma o jogo num espectáculo nada dignificante e que só diminui o campo de influência da modalidade.

Precisamos de melhorar todos os dias o rugby que se joga em Portugal. Para o que necessitamos de melhores treinadores, melhores jogadores, melhores árbitros, melhores dirigentes. Numa vontade que dispensa claramente os piores exemplos da Blood, Sweat and Beers de antanho.

E se, em vez deste comportamento trauliteiro e para começar o novo ano, fizéssemos um esforço para aprender as Leis do Jogo e a sua aplicação prática? Um esforço para que os treinadores fossem exigentes com os seus jogadores, educando-os de acordo com as Leis do Jogo; um esforço dos dirigentes para imporem o rigor das Leis do Jogo nas equipas dos seus clubes e decente comportamento aos seus adeptos; um esforço dos espectadores para que se comportassem como gente bem-educada. E se não há, como também sabemos, jogos sem árbitros e para um futuro com tudo a correr pelo melhor, porque não tentar uma parceria: criar o hábito de convidar os árbitros para se treinarem semanalmente com os diversos clubes.

Talvez assim pudéssemos fazer compreender a marca da nossa diferença: no Rugby, a vitória, sendo importante, não é o mais importante; o mais importante é poder pertencer a uma comunidade muito especial - a comunidade rugbística.


João Paulo Bessa

3 comentários:

Anónimo disse...

este blog ta fixe.
vais pondo aki os resultados e essas coisas mais sérias e o outro fica pa por charia entre o pessoal

Gus

Morpheus disse...

Malta de Santarem aprendam bem quantos pontos têm antes de escrever no blog.

Quanto à questão do sistema de pontuação, aqui fica:
Sei que não parece lógico, mas como Portugal é um pais de tradições e contradições, a 2ª divisão nacional é a única competição nacional com a 'antigo' sistema de pontuação 3 pontos vitória, 2 pontos empate, 1 ponto derrota. Sistema pontual 'à Super XII/Super XIV' é coisa para 'putos', sub-16 a sub-20, incluíndo séries B,2ªs e não apurados e para os campeonatos menores da Honra e 1ª. Campeonato que é campeonato, dá um ponto só por teres a coragem de apareçer e não premeia, nem 'arrogantes' que marcam mais de 4 ensaios, nem 'meninos' que só vem para aqui defender ... isto aqui na 2ª é um desporto muito a sério.
ver Artigo 7º do Regulamento Geral de Competições da F.P.R


A pontuação correcta seria

pontuação á segunda jornada:

1º SANTAREM 6 PONTOS
2º TOMAR 3 PONTOS (-1 jogo)
3º LOUSADA 2 PONTOS
4º GRUFC 1 PONTO (-1 jogo)
5º FAMALICAO 0 PONTOS (ainda não jogou)

Anónimo disse...

o Sr. ofendido aqui outra vez